Os conselheiros e nós

2° ENCONTRO INTERNACIONAL DOS RESPONSÁVEIS REGIONAIS
Roma, 24-29 de Janeiro de 2009


Os conselheiros e nós
Reflexões de Maru e Paco Nemesio – 25 Janeiro 2009
 
 
Introdução:
 
As Equipes de Nossa Senhora são um movimento de casais em que os Sacerdotes conselheiros sempre tiveram, em todo o mundo, um papel fundamental:
  • O fundador das Equipes foi um padre, o Padre Henri Caffarel; ele e os primeiros casais franceses tiveram as intuições iniciais que inspiraram a Carta Fundadora de 1947. Durante os 26 anos seguintes, como conselheiro do Movimento, impulsionou o seu crescimento e a sua expansão, na França e em outros países; e quando, em 1973, deixou as ENS, escolheu para seu sucessor o Padre Roger Tandonnet.
     
  • Em todas as equipes responsáveis de Setor, de Região, de Província, de Super-Região e na ERI houve sempre um sacerdote conselheiro. Na ERI: o Padre Bernard Olivier, o Padre Cristóbal Sarrias, Monsenhor Fleischmann e, desde janeiro de 2007, o Padre Angelo Epis.
     
  • Em quase todas as equipes de base houve sempre um sacerdote conselheiro. Atualmente, pertencem às Equipes 6000 sacerdotes conselheiros espirituais.
Ao reler a Carta Fundadora, o seu Complemento de 1976: Que é uma Equipe de Nossa Senhora? e os Estatutos Canônicos, e ao recordar a história geral das ENS e a história da nossa própria equipe de base, chegamos à seguinte conclusão:
 
Os sacerdotes conselheiros espirituais são essenciais ao carisma das Equipes de Nossa Senhora. Sem eles, agora não haveria equipes ou, se houvesse, as equipes e nós seríamos diferentes.
 
Os casais das Equipes valorizam muito os conselheiros, por esta razão:
1º) Sendo um movimento de casais, temo-nos definido tradicionalmente como um “Movimento em que se encontram dois sacramentos, o Matrimônio e a Ordem”.
2º) O Movimento aprovou, a nível internacional, vários documentos dedicados aos padres conselheiros: os dois últimos em 1993 e em 2006.
 
1. A união de dois sacramentos: Matrimônio e Ordem
 
Desde a fundação das ENS, não houve nenhuma realidade das Equipes em que casais e sacerdotes conselheiros não tenham estado juntos. A união dos dois sacramentos está no nosso carisma fundador. O Padre Caffarel e muitos outros conselheiros adiantaram-se ao Vaticano II e começaram a construir uma teologia sobre os leigos casados que marcou a vida do Movimento; a sua entrega e o seu trabalho foram um forte estímulo para os casais que, a pouco e pouco, foram amadurecendo e assumindo responsabilidades na Igreja e no Movimento.
 
Nas primeiras décadas do Movimento, o papel dos conselheiros – a começar pelo Padre Caffarel – foi preponderante. Hoje é diferente: embora ainda haja casais que continuam a depender demasiado do seu sacerdote conselheiro, muitas outras já não são “fiéis passivos”, mas “corresponsáveis” das suas paróquias e das suas equipes de base.
 
Atualmente, as Equipes devem evitar a tentação de cair na desforra histórica de considerar o padre como alguém de “segunda categoria”. Ir por esse caminho seria injusto e contrário ao nosso carisma, já que em todos os serviços de responsabilidade em nosso movimento é importantíssimo o espírito de comunhão entre os casais responsáveis e o conselheiro padre, a fim de que, no serviço, sejamos um. A responsabilidade é do casal responsável, em comunhão com o sacerdote conselheiro e com a sua equipe de setor, de região ou de super-região,
 
Que destacar a respeito da “união dos dois sacramentos”?
 
Os sacramentos do Matrimônio e da Ordem não são uma coisa que aconteceu no passado, quando os casais se casaram ou quando os padres foram ordenados; desde então, somos sacramento, sinal e meio para refletir e deixar que os homens vejam o rosto de Deus.
 
Ao casar-nos na Igreja, decidimos ser sinal e reflexo do amor de Deus um para o outro, e os dois juntos para os nossos filhos, familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, num círculo que tende a ampliar-se.
 
Ao receber o sacramento da Ordem, o padre decide ser sinal e reflexo do amor de Deus que se entrega a todos; deixar ver Deus com o seu coração, com as suas mãos, com a sua palavra, com a sua vida; deixar que, através dele, Deus seja Deus para os outros, que escute, acolha, compreenda, ame e sirva a todos!
 
Os sacramentos do Matrimônio e da Ordem não abarcam a insondável riqueza de Deus. Mas os rostos de Deus que juntos podemos deixar ver são importantíssimos para os homens de hoje:
  • Os casais: O Deus que nos ama é fiel sempre; o Deus do amor especial e concreto por cada filho, por cada pessoa; o Deus que vê o melhor que há em nós e nos ama continuamente; o Deus que não se cansa de nos perdoar e que, de braços abertos, espera o nosso regresso.
  • Os padres: O Deus que é “Deus Pai de todos”, que “Se dá e se entrega ao serviço de todos”; o Deus que nos deixa ser livres; o Deus que, por ser o princípio e o fim de todas as coisas, dá sentido à vida; o Deus que “chama e ilumina a todos”; o Deus que é a fonte de toda a comunhão e cabeça da Igreja.
O Movimento promove a comunhão esposos-padre em todas as equipes de base e exige-a em todas as instâncias de responsabilidade.
 
 
2.  PAPEL E MISSÃO DO SACERDOTE CONSELHEIRO:
 NA EQUIPE DE BASE e NA EQUIPE REGIONAL
 
QUE PEDIMOS AO SACERDOTE CONSELHEIRO?
  • Que seja e se sinta membro da equipe como padre, trazendo-lhe a especificidade do seu sacramento.
  • Que conheça bem o carisma e a metodologia das ENS e esteja bem informado sobre o que o Movimento propõe.
  • Que se relacione com outros conselheiros de equipe e participe nos atos do Movimento, em particular nos que se destinam a conselheiros.
  • Que participe e ponha em comum livremente nas reuniões de equipe.
  • Que seja ativo e contemplativo ao mesmo tempo.
  • Que seja construtor de paz e de fraternidade.
  • Que seja exigente consigo próprio e com os outros, mas tendo com todos relações próximas.
  • Que seja humilde para se deixar interpelar, acolher e amar pelos outros.
  • Que procure ser amigo de todos.
  • Que recorde à equipe a sua pertença à Igreja.
  • Que presida aos sacramentos da Eucaristia e do perdão dos pecados, atuando como sinal de Cristo, “cabeça” da comunidade cristã.
  • E que assegure a eclesialidade das equipes e a nossa união à Igreja, quando em equipe fazemos oração e celebramos a Eucaristia.
 
COMO VIVE UM CONSELHEIRO A SUA PERTENÇA ÀS ENS?
  • Ação de graças pela sua pertença à equipe.
  • Os casais da equipe ajudam-no a viver a sua vocação sacerdotal.
  • Também o ajudam a desmistificar e não idealizar a vida de casal por oposição ao celibato.
  • Sente-se no dever de ajudar os casais a comprometerem-se em alguma ação mais do que a pertença às ENS.
  • As reuniões de equipe são muito diferentes das outras reuniões da paróquia.
  • Cuida da relação pessoal com cada casal da equipe.
 
ALGUMAS TAREFAS ESPECÍFICAS DO CONSELHEIRO REGIONAL:
  • Conhecimento pessoal de todos os conselheiros de setor e – na medida do possível – dos conselheiros das equipes de base.
  • Organizar e participar de encontros com outros conselheiros.
  • A formação espiritual da equipe regional.
  • Convidar outros padres a que aceitem ser conselheiros de equipes.
  • Presidir as eucaristias no encontros regionais.
  • Assistir às reuniões dos colégios super-regionais.
  • Fomentar a ligação do Movimento com as dioceses da sua região.
 
3.  QUE FAZER DIANTE DA FALTA DE PADRES CONSELHEIROS?
 
Esta é uma pergunta que o Movimento tem feito a si mesmo ao longo dos últimos 15 anos; aparece nos documentos sobre o Sacerdote  Conselheiro aprovados em 1993 e em  2006.
 
Em 1993 já se verificava que o crescimento do número de equipes e a diminuição do número de  padres tornavam cada vez mais difícil a presença de um padre em cada equipe. A ERI já dizia que essa dificuldade não devia impedir a criação de novas equipes nos países em que a falta de padres era uma dolorosa realidade.
 
Este problema vem se agravando: atualmente há mais equipes do que em 1993, mas na Igreja há menos padres, e não parece que a tendência se altere nos próximos anos!
 
Face a este problema, esses documentos oficiais do Movimento propõem várias soluções:
 
1ª CONTINUAR A PROCURAR PADRES.
 
A primeira coisa é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para cuidar dos padres que estão no Movimento e para conseguir que mais padres aceitem ser conselheiros. Temos que trabalhar em dois níveis:
 
– Ao nível dos padres: apresentar-lhes o Movimento em geral e os casais das equipes de base que precisam deles; e convencê-los a que aceitem entrar numa equipe como conselheiros.
 
– Ao nível dos Bispos: informá-los devidamente acerca da identidade do Movimento, dos seus objetivos e da sua missão na Igreja.
 
2ª QUE DUAS OU MAIS EQUIPES PARTILHEM O MESMO SACERDOTE CONSELHEIRO.
 
Nesta solução, todas as equipes continuam a ter um sacerdote conselheiro, mas partilham-no com outras equipes, de tal forma que o conselheiro não vá a todas as reuniões de cada equipe, mas que:
– vá a uma reunião a cada duas ou três;
– ou vá no princípio e no fim do ano e quando a equipe o solicitar por alguma dificuldade grave.
 
3ª EQUIPES SEM CONSELHEIRO
 
O problema da real falta de padres não deve impedir nem a formação de novas equipes nem que as equipes já existentes continuem a caminhar de forma adequada.
 
Onde este problema existe, normalmente acontece o seguinte: ou a equipe é composta de casais com formação suficiente, que podem caminhar sozinhos, ou a equipe necessita, pelo menos quando começa a sua caminhada, de um “acompanhamento espiritual temporário”, até encontrar um sacerdote conselheiro ou até a equipe poder caminhar sozinha.
 
Em ambos os casos, o conselheiro de setor deve assegurar a presença sacerdotal na equipe. Além disso, o casal responsável de setor, em sintonia com o conselheiro de setor e a equipe de base em questão, deve procurar a melhor solução para cada caso concreto.
O Movimento parte do princípio de que em todos os setores haverá um sacerdote conselheiro de setor.
 
4ª.– ACOMPANHAMENTO ESPIRITUAL TEMPORÁRIO
 
É uma última solução, que só se deve adotar quando tiverem sido esgotadas as possibilidades indicadas antes: uma equipe que conta com a participação virtual ou esporádica do sacerdote conselheiro de setor, mas que, além disso, dispõe de um “acompanhante espiritual temporário” não padre, designado pelo Movimento para um período limitado.
 
Em nossa opinião:
  • Neste momento as ENS são mais necessárias que nunca aos casais e às famílias, nos cinco continentes.
  • A diminuição do número de padres não deveria impedir a criação de novas equipes de Nossa Senhora em lugar algum.
  • Temos que rezar pelos nossos padres e pedir a Deus vocações sacerdotais.
  • Esta é a hora dos leigos. Os leigos casados têm de assumir as suas responsabilidades na Igreja e no Movimento.